A importância do esforço

A importância do esforço

Por: Paulo Sousa

É terça-feira, estou a ter um dia difícil no trabalho. Pescoço e ombros estão rígidos com o stress, o sono de noite foi pouco e o conforto dos cobertores fora muito ante a batalha contra o despertador. A expectativa do regresso a casa é medida nas horas ao canto do monitor do PC. Faltam cada vez menos minutos por passar, enquanto anseio pela hora de saída num dia em que o Grupo de Vida é só na semana seguinte. O objectivo desejado já desde manhã, é rumar a casa e desligar-me de hoje na calma do sofá. 

Chegou a hora. Uns 20 minutos mais e o trajecto do comboio ficará também ele para trás. No visor do telemóvel surge uma mensagem alegre: “Olá, Hoje temos grupo na Ameixoeira”. Dois ânimos diferentes: o de quem militantemente me recordava da comunhão semanal com a Palavra e família na fé, e o de quem desde manhã cedo tinha um propósito definido de busca de conforto caseiro e que pensava que o grupo seria daí a uma semana. Ocorreu-me uma sensação de conflito interno e incómodo que queria disfarçar para comigo. 

“Ocorreu-me uma sensação de conflito interno e incómodo que queria disfarçar para comigo.”

Duas opções e uma escolha. Respondi que não. Justifiquei-me na legítima necessidade de compensar um “dia não”, porque merecia ter a minha vontade satisfeita, e o sentimento de que a minha presença no grupo poderia ser facilmente compensada por algum dos outros que habitualmente vão, tornou a desculpa interna mais fácil. Respondi à mensagem demonstrando a decisão firme de que nesse dia não iria, isto apenas para ver os meus motivos esbarrarem com os motivos maiores da pessoa que me recordara da reunião do grupo, ter ela também não dormido e deixado para trás mulher e filha com febre em casa para manter a missão e o compromisso do Grupo de Vida. 

Acedi, já com peso na consciência, e fui ter com o Tiago ao Senhor Roubado. O tempo de espera ajudou a fazer desaparecer a irritação causada pela correria e stress do dia, e eis que ele chegou, bem disposto e com um sorriso sereno. Fomos para o local do Grupo de Vida, já com o dia e as minhas desculpas para trás. Já no grupo, pensava em como estava reunido com pessoas tão diferentes umas das outras e como Deus nos reunira até que, durante o momento da palavra dessa noite em que falávamos sobre “Visão” e “Missão”, o Tiago, assinalando que não era uma questão de alimentar o meu ego, perguntou aos outros presentes algo sobre a importância para o grupo de eu ter vindo. 

“Já no grupo, pensava em como estava reunido com pessoas tão diferentes umas das outras e como Deus nos reunira (…)”

Fiquei contente por terem dito que as perguntas que coloco nas reuniões acabavam por ajudar a esclarecer questões que algumas pessoas não colocavam, e aí fez-se um pequeno “clique”. É que nem sempre sabemos a importância das coisas “pequenas”, como uma mera presença num grupo, e ignoramos que a opinião que temos sobre a nossa própria importância pode ser diferente aos olhos de outro. Num corpo todos são importantes. 

“(…) ignoramos que a opinião que temos sobre a nossa própria importância pode ser diferente aos olhos de outro.”

Sei que em nenhuma outra circunstância é possível um grupo de pessoas reunir-se, sentir-se unido e ter carinho uns pelos outros da forma como ocorre quando estamos num corpo da Igreja em Cristo. Mesmo até quando conhecemos os outros há pouco tempo, sabemos que Deus está presente ali. Apesar disso, às vezes esquecemos-nos que é possível trocar isso pelo conforto caseiro, ou por alguma desculpa que nos alivie a consciência, quando é mais fácil satisfazer a nossa vontade individual. Há um chamado, há um propósito e há uma função de complementaridade entre os membros, graças às características únicas de cada um. 

Um dedo da mão só pode ser dedo se houver mão, e uma mão só existe se houver dedos e até esses dedos são únicos à sua maneira. Assim, cada membro de um Grupo de Vida ajuda a edificar e complementar os outros membros e isto, por vezes, de forma inconsciente, sem o nosso controlo e independentemente do que achamos de nós próprios. Fomos criados de uma forma maravilhosa, somos articulados num Corpo, e isto não foi para usufruto pessoal. 

“Assim, cada membro de um Grupo de Vida ajuda a edificar e complementar os outros membros (…)”

Nesse encontro do grupo, após um dia difícil em cima que me afectara o ânimo, dei por mim a rir, de sisudo passei a alegre, abençoado pelo ensinamento e pelo exemplo de outros que assumem de forma clara a sua missão, recordando-me de que somos chamados, amados por Jesus, e colocados num corpo com um propósito. 

Somos membros uns dos outros.

________________________________

O que são os Grupos de Vida?

São pequenos grupos de estudo bíblico, oração e comunhão, que se realizam em vários dias da semana, em casas particulares.

Se pretende visitar ou frequentar um destes grupos, contacte-nos (info@logoscc.org), para lhe enviarmos informações sobre os que estão mais próximos de si.