Aquieta-te

As memórias que tenho de ter crescido no Alasca, são marcadas pelas temporadas de caça. Todos os anos em setembro enchíamos o nosso frigorífico com a carne que caçávamos. O grande prêmio era conseguir caçar um alce. Este daria carne suficiente para a família durante todo o ano. O meu pai, eu e geralmente alguns homens, montávamos o nosso acampamento longe das áreas habitadas e, em seguida, levantávamo-nos cedo pela manhã, para encontrar um sítio onde teríamos uma boa visão dos prados. Então, apenas esperávamos. Tínhamos de ser extremamente silenciosos e esperar que a caça passasse. Os animais podiam ouvir e ver melhor do que nós, por isso, a nossa vantagem era somente estarmos quietos.

O estar quietos fazia-nos ver o maravilhoso mundo da natureza. É incrível o que somos capazes de observar, ao nos aquietarmos. O zumbido das abelhas, a mosca a passar, o vento nos salgueiros e o canto dos inúmeros tipos de pássaros são todos acentuados na quietude da manhã. Algumas pessoas têm dificuldade em estar quietas. Parece que elas precisam do barulho constante da televisão, rádio ou de uma casa cheia de pessoas para combater os seus sentimentos de solidão. Mesmo alguns minutos de silêncio tornam-se embaraçosos e indesejáveis.

Quando os filhos de Israel estavam nas margens do Mar Vermelho e o exército do Faraó estava prestes a chegar, o povo não estava calmo. O medo fê-los gritar: “Porque nos fizeste isto…? Deixa-nos em paz…”. Eles achavam que as suas circunstâncias exigiam ação. Todos tinham algo a dizer. As pessoas estavam tudo menos tranquilas, Moisés estava diante delas e disse: “Não temais, estai quietos e vede a salvação do Senhor”, (Êxodo 14:13). Desliga o ruído; as vozes de desespero, os pressupostos, as dúvidas e os medos. Basta ouvir e observar. Fica pronto para a ação, pronto para seguir em frente, mas não até que o Senhor fale. Então, no silêncio da noite, o Senhor disse: 

“Diz aos filhos de Israel que marchem”, (v.15).

Quanto é que perdemos por estarmos tão ocupados na nossa alma? Elias, temendo a ira da rainha Jezabel, escondeu-se numa caverna no Monte Horebe. O Senhor veio a ele no seu desespero, chamou-o do seu isolamento e começou a falar com ele, mas antes o barulho do vento, o terremoto e o fogo tiveram que diminuir. Em seguida, na quietude da Sua presença, Deus sussurrou a Sua mensagem.

Há um antigo hino, escrito por Katharina von Schlegel, intitulado “Aquieta-te minha alma”. Ele era um dos favoritos de Eric Liddell, o atleta britânico que se tornou famoso, nos Jogos Olímpicos de 1924, por se recusar a correr no sábado. Mais tarde, ele tornou-se missionário na China e, quando esteve num campo de prisioneiros, durante a Segunda Guerra Mundial, ele ensinou esta canção a todos com quem convivia. Vamos acalmar a nossa alma e ouvir o que o Senhor tem a dizer.

Aquieta-te minha alma: Deus contigo está
Leva pacientemente a cruz da mágoa e da dor
Teu Deus por ti vigia e proverá; Em cada mudança
Ele permanece fiel

Aquieta-te; o melhor amigo celestial
Através de caminhos espinhosos conduz-te a um fim jubiloso

— Katharina von Schlegel

Escrituras para meditar:
Êxodo 14:13; Daniel 11:32; I Reis 19:9-18; Provérbios 1:33; 8:34-35